10 Curiosidades Históricas Sobre Cáceres (MT) Que Poucos Conhecem
- Oeste MT Urgente
- há 6 dias
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1. Cáceres nasceu como Vila Maria do Paraguai — mas nunca recebeu legalmente o título de “vila”
Embora fundada em 1778 como Vila Maria do Paraguai, a povoação jamais atingiu juridicamente o status de vila segundo as normas institucionais do Império Português.
Para ser elevada a vila, uma povoação deveria possuir quatro estruturas formais:
Câmara Municipal, com juízes ordinários
Vereadores eleitos, responsáveis por legislar no âmbito local
Pelourinho, símbolo físico da justiça régia
Cadeia pública, para aplicação das penas
Nenhuma dessas instituições foi implantada oficialmente em Vila Maria. A povoação existiu mais como um núcleo militar-administrativo de fronteira, subordinado à Vila Bela da Santíssima Trindade, do que como um município autônomo.
A documentação da época — como as Cartas Régias enviadas ao governador Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres — confirma que o objetivo da instalação era estratégico: impedir o avanço espanhol e legitimar o território pelo princípio do uti possidetis.
2. A povoação foi criada em 1778 durante um dos períodos mais intensos de disputas luso-espanholas
A fundação ocorreu em 6 de outubro de 1778, por ordem direta da Coroa Portuguesa e execução do governador Luís de Albuquerque.
O contexto era de forte tensão:
O Tratado de Madri (1750) redefinira as fronteiras entre Portugal e Espanha.
O tratado baseava-se no princípio da posse efetiva.
A Espanha não reconhecia plenamente a ocupação portuguesa no Oeste de Mato Grosso.
Expedições espanholas vindas do Paraguai, Chiquitos e Moxos ameaçavam a região.
Assim, Vila Maria foi criada como ponto de ocupação imediata, com soldados, oficiais, colonos e indígenas aliados. Documentos como as Ordens de Serviço do Governo do Mato Grosso (1772–1789) registram instruções diretas para ocupar o local antes que a Espanha o fizesse.
3. A primeira instituição formal criada foi a Freguesia de São Luiz de Vila Maria, em 1779
O primeiro órgão oficial não foi político, mas religioso: a Freguesia de São Luiz de Vila Maria, criada em 1779.
Registrada no Livro de Tombo da Diocese do Cuiabá, sua função era estratégica:
Registrar batismos, casamentos e óbitos com valor legal
Comprovar vida civil organizada para reforçar a posse territorial
Fixar moradores por meio da presença religiosa
Na legislação portuguesa, freguesias eram ferramentas essenciais para criar “provas de ocupação”.
4. O Marco do Jauru (1754) é um dos mais importantes símbolos geopolíticos da América do Sul
Erguido em 1754 por uma comissão mista luso-espanhola, o marco:
Foi construído durante as demarcações do Tratado de Madri
Definia fisicamente o limite entre os dois impérios
Era feito de pedra talhada com inscrições oficiais
Foi citado por viajantes como Alexandre Rodrigues Ferreira (1790)
Conhecido como “testemunha pétrea” da soberania portuguesa, sua preservação permitiu ao Brasil reivindicar juridicamente a área no século XIX.
5. O traçado urbano de Cáceres é um raro exemplo de urbanismo pombalino no interior da América Portuguesa
Luís de Albuquerque determinou que Vila Maria seguisse o urbanismo pombalino, inspirado pelo iluminismo após o terremoto de 1755.
As características documentadas incluem:
Arruamento ortogonal
Quadras geométricas
Praça central cívico-militar
Planejamento voltado à circulação e defesa
Esse tipo de urbanismo é comum em cidades portuguesas do período, mas extremamente raro no interior colonial. Cáceres tornou-se um dos poucos exemplos registrados oficialmente no Mato Grosso do século XVIII.
6. A escolha das margens do rio Paraguai foi estratégica para defesa e logística
A localização foi decidida com base em três fatores, descritos em relatórios ao Conselho Ultramarino:
1. Defesa militarO rio Paraguai permitia:
Movimentação rápida de tropas
Abastecimento de fortes
Vigilância contra incursões espanholas
2. Comunicação fluvial com a AmazôniaA navegação atingia:
Belém
Grão-Pará
Maranhão
Integrando Mato Grosso ao sistema amazônico, vital para regiões distantes de Lisboa.
3. Conexões comerciais com territórios hoje bolivianosFacilitava o comércio com:
Santa Cruz de la Sierra
Potosí
Missões de Chiquitos e Moxos
Vila Maria funcionou como porto estratégico econômico e militar.
7. O oeste do Mato Grosso tornou-se prioridade após o Tratado de Madri
Após 1750, Portugal intensificou o povoamento da fronteira com:
Construção de fortes
Criação de povoados planejados
Abertura de estradas
Instalação de postos alfandegários
Incentivo à migração de colonos e soldados
Vila Maria era peça essencial na consolidação da soberania portuguesa.
8. Povos indígenas tiveram papel vital na colonização e proteção da região
Relatórios da época registram a atuação fundamental de grupos como Bororo, Paresi e Guató:
Canoeiros especializados
Guias com domínio territorial
Agricultores que abasteciam as tropas
Soldados aliados, treinados pelos portugueses
Sem os povos indígenas aliados, a sobrevivência de Vila Maria teria sido extremamente difícil.
9. A fundação da cidade integrava o projeto de ligação Mato Grosso–Amazônia
Portugal buscava conectar:
Vila Bela da Santíssima Trindade
Cuiabá
Belém do Pará
Cáceres foi escolhida como ponto de apoio por oferecer:
Navegação integral pelo Paraguai
Ligação com o Guaporé
Abastecimento para longas expedições
Estaleiros rústicos para reparo de embarcações
Esse projeto aparece nas Memórias do Governo do Mato Grosso.
10. Cáceres ocupa a fronteira mais disputada da América do Sul no século XVIII
A região entre os rios Guaporé, Jauru e Paraguai era a área mais tensa da América Meridional no século XVIII.
Para garantir a posse, Portugal investiu em:
Fortificações
Aldeamentos aliados
Missões religiosas
Povoados planejados
Expedições de mapeamento
Essas ações moldaram a fronteira que corresponde ao atual Mato Grosso.



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